sábado, 16 de maio de 2015

O espaço urbano ditando o comportamento humano

Ao tentar decifrar os seres humanos, geralmente tomamos dois caminhos: um, levando em consideração os aspectos natos, portanto biológicos, aqueles que estão impregnados no nosso DNA, nossa carga genética; já o outro, procura interpretar o ser humano, observando a sua relação com o meio em que vive, as influências que sofre, os desejos e as vontades que possuem e as experiências adquiridas ao longo da sua própria existência.

Isto não quer dizer que seja uma tarefa fácil. Acredito que nunca será. Mas são tentativas, de alguma maneira, de dar respostas a indagações que inquietam a humanidade, fazendo o ser humano, mesmo que vagarosamente, descobrir a si mesmo.
                
Dentro deste objetivo, de tentar colaborar neste processo de nos decifrar, e entre as várias opções de análise, focarei o olhar no espaço urbano e a partir dele refletir alguns dos nossos comportamentos.
               
Viver coletivamente, não é uma escolha humana, faz parte da nossa natureza. Por inúmeros motivos temos que viver juntos, criando relações, elos... grupos. Ao longo dos séculos, estes grupos, foram se aperfeiçoando, criando identidade, formando aldeias, tribos, comunidades, povoados, cidades... fazendo do espaço em comum, o local de encontro dos indivíduos, o local em que a vida se mistura com tantos outras vidas e forma a sociedade.
                
O espaço urbano, o espaço da vida em comum, é o meio, o lugar em que as influências acontecem, os pensamentos se emolduram, a existência se gasta. E como somos influenciados pelo meio, automaticamente, somos direcionados pelo espaço em que vivemos. Daí a importância de se cuidar das cidades, pois muitos dos nossos comportamentos nascem justamente de como ela é.
                
Muitas vezes, através de conversas entre amigos, expomos algumas situações que gostaríamos de ver acontecendo. Principalmente, quanto se trata da vida em sociedade. Mas será que nossas explanações são realizáveis? Analisaremos algumas situações que observamos com freqüência no dia a dia das nossas cidades:
                
- Andar pelas ruas em detrimento às calçadas. Geralmente, nas ruas que traçam as nossas cidades, principalmente, as pequenas e médias cidades, quase não observamos a existência de calçadas. Quando digo calçadas, digo calçadas mesmo, dentro de padrões aceitáveis de circulação de pessoas e não uma pequena faixa de terra coberta por uma fina camada de concreto. Quando olhamos para os bairros periféricos esta realidade se acentua ainda mais. As poucas calçadas que existem, são em sua maioria, irregulares, mal feitas, cheia de empecilhos para que os transeuntes circulem de maneira minimamente confortável e sem riscos de tropeços e quedas.
                
- Jogar lixos pelas ruas. Uma das frases mais ditas nos educandários, relacionados ao lixo é: "lugar de lixo é no lixo". Subentende que o lugar de jogar o lixo são nas lixeiras e não no chão. Mas andando pelas ruas, dos nossos municípios, poucas são as lixeiras encontradas. Nos bairros são praticamente inexistentes.
                
- Fazer a travessia na faixa de pedestre. Respeitar as leis do trânsito ainda não é uma realidade. Como já disse anteriormente, nossas ruas não ajudam muito, mas espalhar, nos pontos necessários, as faixas pelas ruas é o primeiro caminho. Não sou especialista em trânsito, mas acredito que nos bairros, em pontos estratégicos, deveriam existir mais faixas. Assim, as crianças vão crescendo e acostumando com elas.
                
- Uso das vagas de estacionamento para idosos ou portadores de necessidades especiais. A importância destas vagas é indizível. Agora, para sua eficácia depende muito mais de quem não depende, diretamente, dela.
                
- Existência ou seria melhor dizer, a inexistência, de espaços públicos de lazer. Uma das características do mundo atual é que as ruas e lotes não podem mais ser usadas como espaço de lazer. Nas ruas o aumento do tráfego de veículos impedem tal procedimento por parte das crianças. Lotes vazios, praticamente não existem mais. Estes espaços acabaram, quais foram as contrapartidas? Simplesmente não existem. Assim, perdidas, as crianças ficam perambulando de lugar em lugar, inventando "moda" ou se trancando em casa, "curtindo" o fantástico mundo do faz de contas da vida real, entre jogos e jogos.
                
- Freqüentar ambientes culturais. Sem relativizar o conceito de cultura, quero usá-lo como sendo um meio pelo qual o ser humano se torna uma pessoa melhor, mais culto, mais intelectual... lugar onde se torna possível desenvolver suas potencialidades e incentiva o desenvolvimento da criatividade. Quantas crianças vão nascer, crescer, desenvolver... sem nunca ter freqüentado um espaço com esta finalidade. Podemos cobrar dela o gosto pela arte? O gosto pela cultura? E quais serão as atitudes e comportamentos destas pessoas totalmente alheios a este mundo cultural?
                
Cuidar das cidades, significa cuidar das pessoas. Cuidar do espaço urbano, significa incentivar o comportamento das pessoas. Só assim, nossas relações conquistarão indicadores mais aceitáveis e compatíveis com a maneira digna de se viver humanamente.

Walber Gonçalves de Souza é professor.

(Artigo publicado simultaneamente nos jornais: 
Diário de Caratinga, Diário de Teófilo Otoni e Diário de Manhuaçu, dia 16/05/15.)

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