terça-feira, 7 de julho de 2015

A POLÊMICA DO AUMENTO SALARIAL

Iniciarei este artigo comentando sobre o cenário salarial da nossa Caratinga, de acordo com os dados fornecidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no último censo, ocorrido em 2010.
Observando os dados fornecidos pelo órgão, que está disponível para consultas públicas, podemos perceber que 31% da população, economicamente ativa, vivem sem rendimentos fixos, vivem de trabalhos temporários, a exemplo do que acontece na nossa região no período da colheita de café; 39% da população recebem até um salário mínimo; 26% recebem de 2 a 5 salários mensais; 3% desfrutam de rendimentos entre 6 à 10 salários; e uma pequena parcela, cerca de 1%, recebe acima de 11 salários mínimos por mês. Na época, em 2010, o salário era de 510 reais.
Passados, praticamente cinco anos, pode ser que este cenário tenha se alterado um pouco, uma nova pesquisa pode apontar algumas variações, mas acredito que não serão mudanças radicais. Para constar, houve o aumento do salário mínimo que hoje é de 788 reais.
Que todo trabalhador merece receber pelo seu trabalho isto é inegável. Da mesma forma que é inegável também que vivemos em uma era de discrepância salarial. Nem sempre ganhamos pelo que produzimos, merecemos ou até mesmo necessitamos. E isto faz parte da estrutura do sistema de produção das sociedades contemporâneas, principalmente as nações consideradas em processo de desenvolvimento, que ainda não conseguiram reverter o quadro de desequilíbrio na geração e distribuição de renda.
Mas em Caratinga, pelos dados oficiais, cerca de 99% da população, ganha no máximo 10 salários mínimos, portanto, um valor aproximado de 7.880,00 reais (bruto), mas desta fatia um percentual de 80% chega a receber no máximo um salário mínimo. Somente com estes valores já é possível desenhar o nosso quadro social, perceber como é a distribuição de renda e por consequência a qualidade de vida dos munícipes.
Nos últimos dias, estamos acompanhando uma reflexão sobre o aumento salarial dos vereadores do nosso município. Uma das justificativas para o aumento está ligada às perdas provocadas pela inflação. Não pretendo aqui entrar no mérito de cada um dos vereadores, e apontar (e quem sou eu para fazê-lo) quem mereceria ou não o referido aumento. Pois sei que não é justo “julgar” todos eles da mesma forma. Mas gostaria de propor as seguintes reflexões sobre a questão em pauta:
1º) Em meio ao momento atual em que estamos vivendo, onde todos, de alguma forma, estamos tendo que fazer algum sacrifício, seria a hora de propor um aumento de salário?
2º) Nos últimos anos, os trabalhadores dos demais setores tiveram seus aumentos baseados nas perdas provocados pela inflação?
3º) Nossos representantes, já ocupam a seleta fatia daqueles que ganham acima de 11 salários mínimos mensais, portanto, cerca de 1% da população assalariada. Se eles sentem a defasagem do salário, imagem os outros 80%…
4º) Quero deixar aqui uma proposta para os nossos legisladores: pensem, discutam, criem um padrão a ser seguido para o aumento salarial de todos os servidores do município, lotados em todas as esferas do poder público. Assim, o aumento dado periodicamente será o mesmo para todos. Estabelecendo uma forma menos injusta de valorização salarial.
5º) Se foi de propósito, não posso afirmar, mas deu a entender que, este aumento, foi algo na surdina, por debaixo dos panos, no apagar das luzes… em meio a um feriado municipal e às vésperas do recesso. Qual o motivo para tal atitude? Ou isto não é coisa pública?
Enfim, discutir salário é sempre algo complexo. Como diria uma amiga, salário de político parece algo maldito (deve pensar assim pela forma como a maioria deles agem). Talvez este seja o motivo de sempre se querer mais e os valores estampados nos holerites nunca serem o suficiente para os seus intermináveis compromissos com “seus eleitores”, que acabam de alguma forma, colaborando também, com este cenário desolador. Pelo menos é o que parece!
Mas que está faltando, nos nossos gestores públicos, um pouquinho de espírito público, de sensibilidade, de coerência com o momento atual do município, de grandeza humana… isto está, e como está!
Walber Gonçalves de Souza é professor
(Artigo publicado no Diário de Caratinga na edição do dia 07 de julho de 2015.)

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