quinta-feira, 15 de outubro de 2015

FALTA ÁGUA: TRAGÉDIA ANUNCIADA
Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga no dia 06/10

De segunda à sexta todas as manhãs era sempre a mesma coisa, por volta de 6:15h saía do Bairro Limoeiro, mais precisamente da Rua Dr. Breno Mourão e caminhava até as dependências da Escola Estadual José Augusto Ferreira, mais conhecida como Escola Estadual. De 1991 à 1993 cursei o segundo grau, hoje correspondente ao ensino médio.
                
Das minhas lembranças de estudante, ainda desta época, poucas são as coisas que afloram na minha memória sobre temas ligados ao meio ambiente. Estudávamos sobre muitas coisas, mas aulas com temas voltados para a preservação ambiental, com o cuidado que devíamos ter com o nosso planeta eram raras.
                 
Mas em 1992 aconteceu um fato que marcou e ao mesmo tempo mudou a percepção que as pessoas tinham sobre as questões ambientais. Na cidade do Rio de Janeiro aconteceu uma Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, que ficou conhecida como ECO-92. A partir deste evento as ações envolvendo a educação ambiental começavam a fazer parte do contexto escolar.
                
O futuro do planeta começava a ser discutido, os problemas ambientais também. Duas correntes lideravam os debates, uma defendia que os problemas ambientais eram consequências das ações predatórias do ser humano e a outra que tudo não passa de um ciclo natural da própria natureza, que o ser humano pouco ou nada interfere. De vaga memória lembro que naquele momento falava-se mais sobre a destruição da camada de ozônio, e por consequência do aquecimento global, o derretimento das geleiras e  as mudanças climáticas.
                
Mas um assunto não ficou esquecido, e também fez parte da pauta da ECO-92, a questão da água. Alguns especialistas previam os problemas que a humanidade enfrentaria decorrentes do desequilíbrio momentâneo do ciclo das águas. Resumindo, de acordo com eles em futuro não muito distante milhares de pessoas no mundo enfrentariam a escassez de água.
                
Soluções foram apontadas, entre elas, a diminuição de emissão de gases poluentes, o plantio de árvores, a criação de leis ambientais e uma série de outras pequenas ações que resultariam na preservação ambiental, no cuidado com a Terra.
                
O tempo foi passando, e os debates intensificaram-se. Em meio às discussões a realidade, uma catástrofe aqui outra ali. Gente morrendo de sede aqui, outras de fome acolá. Nascentes secando aqui, rios desaparecendo acolá. E de fato o que está sendo feito na tentativa de pelo menos amenizar o problema? Pelo visto muito pouco.
                
E agora chegou a nossa vez, nossa Caratinga está enfrentando a escassez de água. Começou na semana passada o rodízio de abastecimento. Talvez muitos pensassem que nunca chegaria a nossa vez. Como telespectadores, na maioria das vezes inertes, acompanhávamos tudo que estava acontecendo ao nosso redor, através dos noticiários e comentários com amigos, mas aquela velha mentalidade permanecia, comigo não vai acontecer, só com o outro. Nossa cidade não, somente as outras!
                
Independente de quem tinha razão nos debates sobre as causas dos problemas ambientais, perante a dúvida não fizemos nada. Não cuidamos das nossas nascentes, dos nossos rios, não reflorestamos, ficamos mais presos na bela teoria ambientalista do que nas ações significativas e concretas que realmente poderiam de alguma forma amenizar os problemas.
                
Nestes anos todos muitas vozes se levantaram e tentaram colocar em evidência a questão. Mas como são anônimos, despercebidos pela maioria da sociedade, não tiveram a atenção merecida. Aqueles que deveriam zelar, devido às suas atribuições administrativas e de gestão, pelo visto preferiram como sempre a omissão, ou o conforto da conveniência.
                
E como sempre, usando do ditado popular "quem paga o pato" é a população, os mais carentes e desprovidos de qualquer atenção.
               
A tragédia ano após ano estava sendo anunciada. Muitas coisas poderiam ter sido realizadas de fato. Chorar não adianta, a realidade está ai. Temos dois caminhos, ou continuamos de braços cruzados ou arregaçamos as mangas e comecemos a fazer o que é preciso. E isto nós já sabemos só nos falta executar, mas executar de verdade, sem as aparências enganosas que fingem resolver mas mantêm o problema. Chega de faz de contas!


Walber Gonçalves de Souza é professor. 

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