segunda-feira, 29 de junho de 2015

Palestra sobre os 167 anos de Caratinga

Matéria publicada no Diário de Caratinga, no dia 28 de junho.

Alunos da Jairo Grossi estão conhecendo a História de Caratinga e se reconhecendo como cidadãos que fazem história

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CARATINGA – Empregar os 167 anos de Caratinga como ferramenta de ensino e construção de um novo tipo de cidadão para o futuro. Este foi um dos objetivos do professor Walber de Souza ao ministrar uma palestra para os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental da Escola Professor Jairo Grossi, apresentando características da história do município à véspera do dia 24 – feriado municipal, data em que se comemora o aniversário da cidade e de seu padroeiro, São João Batista.
“Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) estabelecem que a inclusão da constituição da identidade social nas propostas educacionais para o ensino de História necessita de um tratamento capaz de situar a relação entre o particular e o geral, quer se trate do indivíduo, sua ação e seu papel na sua localidade e cultura, quer se trate das relações entre a localidade específica, a sociedade nacional e o mundo”, explica o professor.
2Os PCN´s indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertença ao País. “Além disso, os alunos precisam ser formados para questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação”, reforça Walber.
Ele defende que um ensino eficiente, de acordo com os PCN´s, tem a capacidade de orientar o alunado a compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito.
“Para que isto aconteça é preciso contextualizar a Educação, inserindo a vida do aluno na própria história, estudando sua origem, sua cultura, sua história, bem como a história da sua localidade, da sua cidade. Neste sentido, a palestra sobre os 167 anos de Caratinga, teve por objetivo incentivar o gosto pela história, mostrando ao aluno que ele também faz parte dela, através das suas raízes familiares e que ele também deixará o seu legado”, ressalta o professor.
Durante a palestra, foram mostradas fotos de diversos períodos da História de Caratinga, comparando os locais das fotos de antigamente com a atualidade. O professor também expôs o tubérculo Cara (espécie de mandioca), que deu origem ao nome do município. Caratinga vem do indígena: Cara-branco.

Fonte: http://www.diariodecaratinga.com.br/?p=11147

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Caratinga em busca de dias melhores
Para nós caratinguenses, o dia de hoje, 24 de junho, marca uma data muito especial, pois foi nesta data há exatos 167 anos, no ano de 1948, que simbolicamente registrou-se o “surgimento” de Caratinga, o início de um pequeno povoado. Começa a nossa História, daquela que viria a ser, por um determinado tempo, uma das maiores cidades do interior das Gerais. Somente em 24 de maio de 1892, pelo decreto nº 23, tornávamos oficialmente o mais novo município do Estado de Minas Gerais.
Ao longo de todos estes 167 anos, a História de Caratinga pode ser percebida e analisada levando em consideração muitos pontos em comum. Podemos afirmar que, praticamente em todas estas 17 décadas, economicamente sempre tivemos envolvidos com alguma atividade extrativista ou agrícola. Por ironia do destino até o nome de Caratinga, apesar das controvérsias, é fruto desta relação. Para alguns o nome é derivado de um tubérculo, à época de muita abundância na região, chamado cará, para outros, devido a forte presença, nos nossos rios e córregos, de um peixe chamado cará. Há ainda uma terceira hipótese que aponta a existência em nossas matas de um macaco de cara branca, vindo daí o nome.
O desenvolvimento econômico e social do município de Caratinga sempre esteve ligado a uma atividade envolvida com alguma referência rural. Neste cenário, a cidade foi se formando. A antiga Praça da Estação, diga-se a Estrada de Ferro Leopoldina,  talvez seja o símbolo desta forma de desenvolvimento, por se tratar de uma via de escoamento de produtos e fomento ao comércio. Por muito tempo Caratinga figurou entre as cidades, economicamente mais importantes do Estado, justamente na época em que aqui se realizavam diversos tipos de atividades econômicas.
Nossa vocação agrícola faz parte da nossa identidade. Dela derivam as demais práticas econômicas do nosso município, podendo ser percebidas raras exceções. Mas hoje almejamos por dias melhores. Queremos mais! Queremos desenvolvimento, tanto no aspecto econômico, quanto social. Parece que estamos vivendo um momento de crise de identidade. Pois acreditamos que estes dias não são compatíveis com nossa vocação agrícola. Aprendemos a ver o campo como sinônimo de atraso e pobreza. Mas será mesmo uma verdade esta forma de pensar?
O nosso município é formado, em sua maioria, por pequenos e médios produtores rurais. Em quase todas as propriedades rurais, nota-se a presença do café e/ou do gado. Em contrapartida não há no município nada que agregue valor a estes produtos. São praticamente vendidos in natura, obviamente, por um preço ínfimo. Portanto, agregar valor a estes produtos é um nicho empresarial a ser explorado. E com ele a possibilidade de dias melhores!
Outro ponto que merece uma bela discussão, entre produtores rurais e engenheiros agrônomos, é a possibilidade de incrementar em nossa região a produção de frutas. Somos carentes de uma variedade deste tipo de alimento. E pelo que se percebe nossa macrorregião também. Como somos caracterizados pela existência de diversos microclimas acredito que vários tipos de frutas se adaptariam, sem grandes problemas, em nossa região. Poderíamos virar, a exemplo do que acontece na região de Petrolina, em Pernambuco, uma cidade exportadora de frutas e dos seus derivados (agregando valor). Há experiências, de forma amadora, realizadas com sucesso, por alguns agricultores da região produzindo melancia, lichia, maracujá… Criando assim, mais uma possibilidade de dias melhores!
Mas para tudo isto acontecer, não podemos cometer os mesmos erros que há 167 anos estamos cometendo. Pensar agricultura de forma rudimentar e amadora. O termo agronegócio nasce justamente aí, para redimensionar esta nova forma de pensar o campo. E talvez este seja o grande entrave que devemos enfrentar: qualificar verdadeiramente a mão de obra camponesa. E isto não é uma tarefa fácil, pois envolve a quebra de paradigmas, de conceitos, de cultura, de valores, de padrões… de interesses públicos, no sentido político da expressão.
Qualificar o campo, em todos os seus aspectos, será o grande passo que daremos em busca de dias melhores! Precisamos estabelecer políticas públicas com este objetivo. Qualificando as práticas rurais, evitaremos o êxodo rural, fomentaremos a economia, teremos uma maior oferta de tipos de alimentos, prática que deveria ser acompanhada por um economista para evitar problemas com a lei da oferta e da procura, valorizaremos nossos centros de educação, proporcionaremos visões empresariais para as atividades correlacionadas com as práticas rurais, agregando valor, e com base nela outras oportunidades surgirão por consequência.
Precisamos, urgentemente, quebrar o mito do campo como caminho do atraso, faz-se necessário transpor esta barreira ideológica. Acreditar no campo é acreditar no nosso maior potencial e com ele a certeza que dias melhores virão!
Walber Gonçalves de Souza é professor. 
(Artigo publicado na Edição Especial em comemoração aos 167 anos de Caratinga no Jornal Diario de Caratinga no dia 24 de junho).

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Palestra: 167 de Caratinga

Fotos da palestra sobre os "167 anos de Caratinga", para os alunos do 3° ano do Ensino Fundamental da Escola Prof. Jairo Grossi. Foi uma experiência muito bacana, gratificante por enfrentar estas "ferinhas" e emocionante por ser a primeira vez que "falo" para as minhas filhas. 


terça-feira, 16 de junho de 2015

Faculdade do Café: orgulho de Caratinga
Walber Gonçalves de Souza
          

Noite fria, a presença do sereno era tão forte, que quando olhávamos sobre alguma superfície, parecia que estava caindo uma fina garoa. Os transeuntes completos de agasalhos. As mulheres transfiguradas com o charme da alma feminina e os homens trajados com vestes típicas para as noites de junho, em dia de festa de São João.
                
O local da festa mostrava-se cuidadosamente preparado, com uma enorme fogueira, umas das maiores do planeta, um palco em fase de ajustes finais para o grande show da noite, barraquinhas totalmente enfeitas com bandeirolas, e servindo os quitutes típicos para as noites frias de inverno, um parquinho de diversão para divertir e acolher as crianças e um estande, que trazia no centro, uma linda maquete para que todos conhecessem, de forma diminuta, a Faculdade do Café, a tão esperada estrela festa.
               
Todos estavam preparados para o grande dia, naquela noite de 24 de junho, dia em que a cidade de Caratinga completaria 130 anos, seria inaugurada a primeira Faculdade do Café do Brasil.
                
As instalações da Faculdade do Café foram detalhadamente pensadas. Seu objetivo maior, seria pesquisar e oferecer à sociedade todas as possibilidades potenciais do cultivo do café. A estrutura física ficou organizada e distribuída da seguinte forma: uma área de produção de mudas, que contava com os mais diferentes tipos de plantas; foram selecionados, em várias partes do município, pequenos terrenos para servirem de campo experimental, no qual seriam cultivadas várias espécies de café, assim, saberíamos qual tipo de muda seria o melhor para determinada região; em parceria com empresas privadas, vários laboratórios foram montados: Laboratório de Genética de Plantas, para o estudo e aperfeiçoamento genético das mudas, possibilitando possíveis correções estruturais das plantas, permitindo uma melhor adaptação às condições geográficas e climatológicas da região; Laboratório de Insumos e Adubação, responsável por indicar os nutrientes que seriam pertinentes ao cultivo de cada região; Laboratório de torrefação, que estudaria à que temperatura cada tipo de café seria torrado para melhor aproveitar seus aromas e sabores; Laboratório de Mecânica, para desenvolver os aparatos, próprios para o cultivo do café, dentro das nossas características topográficas, bem como, aparelhos para o uso doméstico e comercial; Laboratório Fitoterápico, para pesquisar as potenciais possibilidades do uso medicinal do café; Laboratório de Estética, que seriam pesquisados o desenvolvimento de cremes, xampus, perfumes... enfim, os vários tipos de cosméticos; Laboratório de Artesanato, para ministrar técnicas do uso da madeira para a produção de artefatos de decoração; Laboratório de Alimentos, para o desenvolvimento de receitas para o uso do café, em que englobariam a produção de doces, balas, tortas, bombons, os diversos tipos de café expresso, bebidas...; Laboratório de Despolpa, para o estudo da destinação adequada para os resíduos da produção cafeeira; Laboratório de Estudos Ambientais, para pesquisar e analisar os impactos do cultivo no ambiente e indicar sugestões de adequação para amenizar os possíveis danos; Laboratório de Colheita de Grãos, para o desenvolvimento de técnicas de colheita para estar adequada à destinação do café, para qual o seu uso.
                
Na área da faculdade seria possível observar também, áreas de secagem, armazéns de estocagens, um pequeno "Porto Seco" para recebimento de amostras, um Centro de Convenções para palestras e cursos para os produtores, um loja para venda dos produtos desenvolvidos na faculdade e região, uma biblioteca... e um belo e atraente Museu do Café, que serviria para divulgar a cultura cafeeira e guardar a memória dos cafeicultores.
                
E o momento chegou, entre aplausos, foguetes, simbolicamente a fita de inauguração foi cortada. O nome dos estudantes da primeira turma, dos professores e equipe técnica foram anunciados. O primeiro dia de aula estava com a data marcada.
                
Assim, cada ano que se passava, novos empreendimentos iam chegando à cidade de Caratinga. A faculdade trouxe com ela a oportunidade para novos empreendimentos, empresas começavam seus trabalhos, entre elas, produtoras de embalagens, rótulos, marketing, logística... consequentemente novos postos de trabalho, desenvolvimento social. Nasce também a Festa do Café, que ano após  ano aglomerava mais pessoas, movimentando o turismo e o comércio.
                
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município destaca-se entre as cidades do Brasil. A Faculdade do Café representou uma ruptura, Caratinga nunca mais foi a mesma depois dela, pois toda a população, das mais diversas formas, passou a participar da riqueza produzida pelo café.
                
Passados 37 anos, da inauguração da Faculdade do Café, em mais uma noite fria, de festa, uma nova notícia, está aquecendo a alma dos caratinguenses. O Reitor, em seu último ato, pois irá se aposentar, foi convidado pelo prefeito, para dar a todos mais um presente: a penitenciária será desativada, passará a abrigar um centro cultural.

Walber Gonçalves de Souza é professor. 
(Artigo publicado simultaneamente nos jornais: Diário de Caratinga,
 Diário de Manhuaçu e Diário de Teófilo Otoni no dia 16 de junho.)

terça-feira, 9 de junho de 2015

Potencial turístico de Caratinga: uma reflexão


As cidades são formadas por um território delimitado. E cada uma delas apresenta suas potencialidades, fruto das características percebidas dentro do seu limite territorial, que são provenientes dos diversos setores e aspectos. Estas potencialidades podem ou não colaborar para o seu desenvolvimento, pois dependem de como elas são tratadas.
O desenvolvimento de qualquer cidade é o reflexo das oportunidades que nela se manifesta. Algumas apresentam oportunidades de origens naturais/ambientais e outras, justamente, por não possuírem tais características, procuram o desenvolvimento via o processo industrial, tecnológico, festivo, gastronômico... criando assim, nichos de crescimento. Já algumas outras procuram mesclar, ou até mesmo criar uma cadeia produtiva, agregando valores e incrementos, entre os recursos naturais locais e a industrialização destes.
Mas neste artigo, gostaria de concentrar em um foco específico, em uma oportunidade de desenvolvimento para o nosso município, que é o seu potencial turístico. Mesmo sabendo, que o assunto não é uma novidade teórica, pois ele já esteve em evidência em outros momentos, mas por estar adormecido, sendo deixado de lado, e por conseqüência, uma forma de desperdício de uma possibilidade de geração de renda e desenvolvimento social.
Poucas cidades apresentam tantos atrativos turísticos como o nosso município. Mas a sensação que temos é que aqui não tem nada. Que somos desprovidos de qualquer forma de fomentação ao turismo. Vejamos algumas que se perderam com o tempo, pela descaso como foram tratadas e outras que estão ai, debaixo dos nossos olhos, sendo, eficazmente, deixadas de lado.
Acredito que historicamente, perdemos uma grande oportunidade de perpetuar o Santuário de Adoração Perpétua, como um espaço de turismo religioso, como acontece em várias outras cidades Brasil afora. A figura do Padre Colombo, foi simplesmente ignorada. Um ícone da religiosidade da nossa região foi simploriamente renegado ao nada. Não pretendo e nem quero, neste espaço, entrar em questões religiosas, mas, pensamento turisticamente, a história do Padre Colombo poderia ter tomado outro rumo na nossa cidade.
Outro ponto que merece uma reflexão, sem entrar em mérito de valor ou gosto pessoal, mas observando com um olhar de fomentação ao turismo, a existência em nossa cidade de  personagens conhecidos nacionalmente, mundialmente... mas que praticamente não fazem parte do contexto turístico do nosso município. Temos uma Miss Brasil, nossa conterrânea Stael Abelha, um cantor dono de uma das vozes mais conhecidas e admiradas, que é o Agnaldo Timóteo, um escritor e cartunista mundialmente conhecido, o renomado Ziraldo. E tantos outros personagens culturais, que se destacam de alguma maneira em outras terras, mas que aqui, na terra da palmeiras, ou são desconhecidos ou pouco valorizados.
Em grande evidência pelo mundo, o turismo ecológico e/ou ambiental, conduzido de forma sustentável, é uma das formas de desenvolvimento, portanto de geração de renda, que se destaca em vários locais. Fazem parte das características naturais de Caratinga, a APA (Área de Proteção Ambiental) Pedra Itaúna, de uma beleza natural ímpar;  a reserva biológica, conhecida mundialmente como RPPN Feliciano Miguel Abdala, localizada no Distrito de Santo Antônio do Manhuaçu; a Lagoa do Piau; a Lagoa Silvana, que acreditamos pertencer à Ipatinga; várias cachoeiras, entre elas cito a cachoeira do Bom Será, situada nas mediações do Distrito de São João do Jacutinga.  Cada uma delas com suas particularidades naturais e mesmo observando as leis ambientais, que normatizam o uso destes espaços, poderiam servir para práticas de ciclismo, pesca esportiva, caminhadas ecológicas em trilhas, mirantes, esportes radicais... e tantas outras formas de lazer.
Assim, chegamos a uma preocupante conclusão: pouco adianta existirem os meios se eles não são usados, fomentados. Nosso maior problema chama-se abundância de meios. Possuímos tantas formas de incrementar o turismo e ao mesmo tempo eles são tão subutilizados. Há um desperdício, em tempos de crise, de caminhos para diversificar a economia e conseqüentemente de incentivar o desenvolvimento de Caratinga.


Walber Gonçalves de Souza é professor.