quarta-feira, 29 de julho de 2015

Jornal Sem Fronteiras


"Lembranças de uma rua de terra".
Artigo publicado no Jornal Sem Fronteiras, do Rio de Janeiro.
Link: http://www.redesemfronteiras.com.br/noticia_ver.php?id=865

terça-feira, 28 de julho de 2015

ZELADORES DA ALEGRIA

Como diria alguns amigos meus, em tom de brincadeira, mas ao mesmo tempo querendo dar uma alfinetada, a única vantagem de ser professor é que se têm duas férias por ano. O pior é que eles não estão muito enganados! Mas vivenciando então, desta minha vantagem, o recesso deste mês de julho, aproveito para dar uma caminhada descompromissada pelas ruas de Caratinga, assim vou observando o ritmo das coisas, encontrando alguns amigos e colocando a prosa em dia.

Entre os vários encontros, um deles aconteceu próximo ao viaduto que liga o centro ao Bairro Santa Zita. Por coincidência, justamente no momento em que trocava alguns minutos de conversa com um amigo, quase presenciamos mais um atropelamento, motivada pela travessia dos transeuntes pela BR-116, a popular Rio-Bahia. Nossos olhares foram sugados pelas ondas da buzina que de alguma forma conseguiu evitar a colisão.
Que esta questão é crônica em Caratinga, todos nós já sabemos, constantemente este assunto está em voga e em muitos casos com final triste, pois vários óbitos são frutos deste problema. O que precisa ser feito, também já é do conhecimento de todos, construir algumas passarelas no percurso urbano da rodovia. Esta medida faria os índices de acidentes diminuírem consideravelmente.
Mas em meio a esta confusão, alguém poderia levantar uma questão. Em outros trechos da cidade, acidente deste tipo é mais comum acontecer, justamente pelo fato de não existir nenhum meio para evitá-lo, a não ser a atenção no processo de travessia. Agora, próximo ao viaduto não deveria acontecer, justamente por causa do acesso que existe no lugar. E realmente é um ponto a ser discutido, pois tem razão de ser.
Dizem que o hábito de fumar cachimbo deixa a boca torta. Os moradores do Bairro Santa Zita, com raríssimas exceções, acostumaram a atravessar a rodovia, caminhando pelas pistas, colocando suas próprias vidas em perigo. A justificativa para tal procedimento seria o caminho mais curto e o tempo gasto, acredita-se que se ganha tempo.
Mas algo precisa ser feito. Algumas medidas precisam ser tomadas. Esta situação não pode continuar da mesma forma. A primeira delas é tornar o acesso uma realidade. As pessoas precisam enxergar e perceber que ao usar este meio, estará dando segurança para si próprio.
E o que pode ser feito para aflorar na população o gosto por esta “nova” forma de travessia? Primeiramente, acredito que deveria ser reestruturado o local, deixá-lo mais acessível. Como? O ambiente deveria mais iluminado, provoca uma sensação de mais segurança, pois durante a noite, a penumbra do local o leva a ser usado para outros fins, espantando as pessoas de trafegar por lá; implantar corrimão, colaboraria com as pessoas que possuem alguma necessidade especial, bem como os idosos que necessitam de um meio de apoio… enfim, pensar uma forma de deixar o local atraente, bonito, aconchegante, chamativo.
Mas acredito, que somente isto não será o suficiente. Mesmo estando tudo atrativamente perfeito, muitos continuaram atravessando pela pista. É preciso também incentivar a mudança de hábito das pessoas que passam pelo local. E ai talvez esteja a missão mais difícil. Neste sentido, é que se faz necessário o papel dos “Zeladores da Alegria”. A ideia não é original, mas se encaixa perfeitamente na questão em pauta.
Nossa cidade conta com um bom número de pessoas que dedicam suas vidas em projetos de artes cênicas, muitos destes projetos são de cunho social e educativo. Se não estou enganando, em algumas igrejas evangélicas, estes grupos são muito presentes.
Os Zeladores da Alegria seriam, portanto, grupos, devidamente credenciados e apoiados, pelos órgãos competentes, para colaborar com este processo de criação de uma nova percepção de uso da cidade. Penso, que até financeiramente seria mais viável. Prevenir é sempre mais barato e eficaz. Escolher-se-ia os locais mais críticos, de maior demanda, os grupos criariam as formas de intervenção, provavelmente, com um caráter bem lúdico e chamativo.
Muitos pontos da cidade poderiam ganhar esta ajuda. Em locais de faixa de pedestre, carros querendo parar em locais impróprios, ciclistas trafegando em locais impróprios, como calçadas, cidadãos andando pelas ruas… Enfim, situações que não faltam.
Terminada esta empreitada, outras campanhas educativas, com certeza aparecerão. Assim, estaríamos construindo uma sociedade melhor, uma cidade melhor para se viver, onde teremos menos lágrimas e mais sorrisos.

Walber Gonçalves de Souza é professor.
(Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga - 28/07)

domingo, 26 de julho de 2015

Filosofando em Gotas XI

ESPERAR

Esperar... palavra estranha em tempos de correria.

Esperar... palavra estranha em tempos de vida agitada.

Esperar... palavra estranha em tempos de sensação de falta de tempo.

Esperar... palavra estranha em tempos de falta de paciência.

Esperar... palavra estranha em tempos de se querer tudo para ontem.

Esperar... palavra estranha em tempos de uma vida cada vez mais veloz.

Esperar... palavra estranha em tempos de alto tecnologia.

Esperar... palavra estranha em tempos de desejo imediato.

Esperar... esperar... esperar...

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Reforma Humana

Reforma. Ultimamente esta é uma das palavras mais pronunciadas nos meios de comunicação do nosso país. Vira e mexe ela está sendo balbuciada por alguém. Travam intermináveis discussões a respeito da Reforma Política, da Reforma Previdenciária, da Reforma Econômica, da Reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da Reforma Trabalhista, da Reforma do Judiciário… são tantas reformas que levam a crer que está tudo completamente estragado, paralisado… precisando, portanto, ser refeito.
Mas em meio a toda esta discussão parece que o pivô central de todas as reformas, que é o próprio ser humano, está esquivando-se das suas responsabilidades e como sempre delegando ao “sistema” (que precisa substituído e não reformado) a totalidade da culpa dos nossos fracassos nacionais. A principal reforma que precisamos passar é a Reforma Humana, estamos precisando a aprender a ser gente.
Voltando um pouquinho na história da humanidade, veremos no passado semelhanças, alguns exemplos, das mesmas situações, observando a essência das coisas, que acontecem até hoje e que foi mencionado no parágrafo anterior.
Um dos maiores impérios da humanidade, o Império Romano, é caracterizado por uma atitude muito simples que colocaram em prática, dividiram a população em dois grupos: existia o povo romano, que merecia todas as glórias, e o povo bárbaro, que eram todos aqueles que não eram romanos, independente de onde eram e de como viviam, estes mereciam ser perseguidos, se fosse preciso escravizados… eram vistos como segunda categoria de gente.
Uma das maiores religiões ocidentais, infelizmente, cresceu fazendo a mesma coisa, dividindo as pessoas em dois grupos: católicos e não católicos. Os primeiros dignos de todas as benesses divinas e os segundos, pessoas consideradas desalmadas, ditas como bruxas, merecedoras das chamas da inquisição e de todos os estragos provocados pelas Cruzadas. Nos dias atuais estamos presenciando o movimento ao contrário, os que foram perseguidos hoje perseguem. A semente do encalço parece ter germinado e os frutos estão aí, vistos todos os dias nos noticiários.
Com o processo de expansão dos povos europeus, a partir das grandes navegações, não é que a história se repete. Os europeus consideravam-se civilizados, avançados… e todos os povos que foram “conquistados”, “descobertos”, foram considerados por eles “raças inferiores”. E a justificativa: vivam de uma forma diferente, eram seres sem alma… Houve um período que os nativos, das diversas regiões do planeta, foram vistos e tratados como animais.
Terceiro milênio, a dicotomia continua. Separamos as pessoas em indivíduos da esquerda e da direita; sujeitos homoafetivos e heterossexuais; católicos e protestantes; islâmicos e cristãos; rurais e urbanos; intelectuais e analfabetos; ricos e pobres; negros e brancos… e o que é mais importante vai ficando de lado: a “Reforma Humana”.
Ao analisar o passado verificamos que ao defender “bandeiras”, modelos, milhares de pessoas foram exterminadas, excluídas. Independente se estas pessoas eram boas ou ruins, honestas ou desonestas, justas ou injustas… o jeito dominador de ser impera(va) e ponto final.
Mas afinal de contas o que seria a reforma humana? Significa começar a enxergar os valores que realmente interessa. E os valores são, honestidade, sensatez, hombridade, zelo, caráter, sensibilidade… E isto não tem relativismo. Significa valorizar o mérito; significa valorizar a pessoa além das suas crenças, credos, gostos e jeitos; significa perceber o outro como gente; significa ter atitude de gente; significa acreditar que ainda é possível construir uma sociedade, mais justa e fraterna.
O que adianta uma pessoa ser branca ou negra, católica ou protestante, homo ou hetero, letrada ou analfabeta, ser filiada neste ou naquele partido… se suas atitudes são preconceituosas, discriminatórias, malfazejas, injustas, corruptas… desumanas. Acabará colaborando com todas as mazelas da sociedade.
Imaginemos agora o contrário, independente se a pessoa for branca ou negra, católica ou protestante, homo ou hetero, letrada ou analfabeta, ser filiada neste ou naquele partido… se ela pratica a caridade, a justiça, cuida do bem comum, valoriza as pessoas, cultiva os valores humanos… não seria maravilhoso! Estará colaborando, com toda a certeza, para uma sociedade equilibrada, justa… digna da vida humana.
Todas as outras reformas só darão certo quando o ser humano der certo. Quando conseguir sair do casulo, da máscara… como diria Platão, da caverna. Quando permitir-se atravessar os ritos da metamorfose ambulante. Quando deixar de a qualquer preço, defender bandeiras, estereótipos… convicções que desumanizam. Caso contrário, ficaremos eternamente secando gelo e nunca veremos nossos intermináveis problemas começarem a ser resolvidos. Já passou da hora de valorizarmos o que realmente interessa!
Walber Gonçalves de Souza
(Artigo publicado no jornal Diário de Caratinga, no dia 21/07)

terça-feira, 14 de julho de 2015

Lembranças de uma rua de terra

Madrugada de uma noite fria de inverno, mesmo debaixo do cobertor a sensação térmica parecia demonstrar que aquela noite seria a mais fria do ano. De súbito a insônia supera o sono e no silêncio notívago a memória começa trazer à tona lembranças dos tempos imortalizados pela história.
Do hipotálamo surgem as imagens daquele instante, em que pela primeira vez os pés tocavam o chão daquela rua. Daquela via que seria o local da sua morada por muitos anos.
Das reminiscências jorram lembranças dos tempos em que aquela rua de terra, sem nenhuma pavimentação, abrigava todas as tardes crianças brincando pelas ruas, sendo que muitas vezes acabavam sendo confundidas com a própria terra, por estarem tão envoltas por uma camada de poeira. No corre-corre, próprio das crianças, observava-se bolas indo em várias direções, bicicletas passando, tombos acontecendo, jogos de biroscas, a famosa “pelada” (futebol)… às vezes alguém gritava por um joelho esfolado, uma unha quebrada, um dedo torcido… mas nada que abalasse e fizesse com que no cair da tarde aquelas cenas se repetissem.
Na rotina destas tardes diárias, a vida era compartilhada com galinhas, pintinhos, às vezes patos e gansos e não tão infrequentes porcos e cabritos. Não tão diferente das milhares de ruas de terra espalhadas pelos rincões desta nação.
As casas simples, sem luxo, caracterizavam os adornos da rua… com janelas e portas de madeira, telhas cumbuca ou amianto, geralmente tingidas de cal… boa parte seguia o mesmo padrão estrutural.
Eram raríssimas às vezes que se ouviam reclamações de algo, que aos olhos daquela época, eram vistos como impróprios para a vivência coletiva. Assim, percebiam-se pouquíssimos muros entre as casas, portão era coisa notada aqui e acolá e grades inexistentes. Campainha? Era desnecessária, pois o grito anunciava a chegada da pessoa, que praticamente já se encontrava perto da porta.
Mas a vida segue o seu curso, e como diria Charles Darwin, as coisas evoluem, tornando as mudanças inevitáveis. Em um dia de sol a rua de terra foi ganhando nos seus extremos uma fina camada de concreto, que tinha por objetivo delimitar sua extensão e cumprimento, e logo em seguida, aos poucos, foi sendo tampada, vagarosamente, por uma camada de pedras enfileiradas, irregulares e semi-pontiagudas. Sem que notassem não se via mais terra, a rua estava calçada. Porém, havia uma certeza, nos tempos de chuva o barro acabara; nos tempos de seca, a poeira diminuirá. A profecia se concretizou!
A partir de então, as mudanças na rua e seu entorno tornaram-se cada vez mais frequentes. As casas foram ganhando novos formatos e cores, os muros e grades começaram a fazer parte do cenário… as bolas, o  futebol, as biroscas… sumiram.
O pregresso chegou em definitivo, quando a era da pedra foi substituída pela era do petróleo. A rua que um dia foi de terra, tornou-se de pedra, passou a ser coberta por uma fina camada de asfalto. O logradouro estava no ápice da evolução!
Com o asfalto a rua nunca mais foi a mesma, passou a ganhar corpo de modernidade, as casas são mais vistosas, pintadas com cores modernas, enfeitadas, praticamente em todas há muros, portões, cercas, grades… e é claro a companhia!  Na rua, em meio aos transeuntes, os “aviões” (que parecem mais jatos) andam para lá e para cá, motos, carros e bicicletas insistem em buscar o limite máximo da velocidade…
Entre bocejos e cochiladas brota uma dúvida: e a maioria dos moradores, das crianças… onde estão? A melhor resposta encontrada, em meio a penumbra mental, resume-se do seguinte jeito: escondidas dentro das prisões domiciliares em que aquelas casas simples foram se transformando.
Sem que percebesse o sono encarregou-se de sugar os seus pensamentos. Naquele estado inerte, começa a sonhar com aquela rua de terra. No seu momento de sonolência a rua passa pelas mesmas transformações verificadas pelos seus lúcidos pensamentos… a única diferença é que no sonho as pessoas também evoluíram e não transformaram a rua de terra numa selva de pedra.
Walber Gonçalves de Souza (Crônica publicada no Jornal Diário de Caratinga - 14/07)

terça-feira, 7 de julho de 2015

A POLÊMICA DO AUMENTO SALARIAL

Iniciarei este artigo comentando sobre o cenário salarial da nossa Caratinga, de acordo com os dados fornecidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no último censo, ocorrido em 2010.
Observando os dados fornecidos pelo órgão, que está disponível para consultas públicas, podemos perceber que 31% da população, economicamente ativa, vivem sem rendimentos fixos, vivem de trabalhos temporários, a exemplo do que acontece na nossa região no período da colheita de café; 39% da população recebem até um salário mínimo; 26% recebem de 2 a 5 salários mensais; 3% desfrutam de rendimentos entre 6 à 10 salários; e uma pequena parcela, cerca de 1%, recebe acima de 11 salários mínimos por mês. Na época, em 2010, o salário era de 510 reais.
Passados, praticamente cinco anos, pode ser que este cenário tenha se alterado um pouco, uma nova pesquisa pode apontar algumas variações, mas acredito que não serão mudanças radicais. Para constar, houve o aumento do salário mínimo que hoje é de 788 reais.
Que todo trabalhador merece receber pelo seu trabalho isto é inegável. Da mesma forma que é inegável também que vivemos em uma era de discrepância salarial. Nem sempre ganhamos pelo que produzimos, merecemos ou até mesmo necessitamos. E isto faz parte da estrutura do sistema de produção das sociedades contemporâneas, principalmente as nações consideradas em processo de desenvolvimento, que ainda não conseguiram reverter o quadro de desequilíbrio na geração e distribuição de renda.
Mas em Caratinga, pelos dados oficiais, cerca de 99% da população, ganha no máximo 10 salários mínimos, portanto, um valor aproximado de 7.880,00 reais (bruto), mas desta fatia um percentual de 80% chega a receber no máximo um salário mínimo. Somente com estes valores já é possível desenhar o nosso quadro social, perceber como é a distribuição de renda e por consequência a qualidade de vida dos munícipes.
Nos últimos dias, estamos acompanhando uma reflexão sobre o aumento salarial dos vereadores do nosso município. Uma das justificativas para o aumento está ligada às perdas provocadas pela inflação. Não pretendo aqui entrar no mérito de cada um dos vereadores, e apontar (e quem sou eu para fazê-lo) quem mereceria ou não o referido aumento. Pois sei que não é justo “julgar” todos eles da mesma forma. Mas gostaria de propor as seguintes reflexões sobre a questão em pauta:
1º) Em meio ao momento atual em que estamos vivendo, onde todos, de alguma forma, estamos tendo que fazer algum sacrifício, seria a hora de propor um aumento de salário?
2º) Nos últimos anos, os trabalhadores dos demais setores tiveram seus aumentos baseados nas perdas provocados pela inflação?
3º) Nossos representantes, já ocupam a seleta fatia daqueles que ganham acima de 11 salários mínimos mensais, portanto, cerca de 1% da população assalariada. Se eles sentem a defasagem do salário, imagem os outros 80%…
4º) Quero deixar aqui uma proposta para os nossos legisladores: pensem, discutam, criem um padrão a ser seguido para o aumento salarial de todos os servidores do município, lotados em todas as esferas do poder público. Assim, o aumento dado periodicamente será o mesmo para todos. Estabelecendo uma forma menos injusta de valorização salarial.
5º) Se foi de propósito, não posso afirmar, mas deu a entender que, este aumento, foi algo na surdina, por debaixo dos panos, no apagar das luzes… em meio a um feriado municipal e às vésperas do recesso. Qual o motivo para tal atitude? Ou isto não é coisa pública?
Enfim, discutir salário é sempre algo complexo. Como diria uma amiga, salário de político parece algo maldito (deve pensar assim pela forma como a maioria deles agem). Talvez este seja o motivo de sempre se querer mais e os valores estampados nos holerites nunca serem o suficiente para os seus intermináveis compromissos com “seus eleitores”, que acabam de alguma forma, colaborando também, com este cenário desolador. Pelo menos é o que parece!
Mas que está faltando, nos nossos gestores públicos, um pouquinho de espírito público, de sensibilidade, de coerência com o momento atual do município, de grandeza humana… isto está, e como está!
Walber Gonçalves de Souza é professor
(Artigo publicado no Diário de Caratinga na edição do dia 07 de julho de 2015.)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

CARATINGA: 

CIDADE DAS PALMEIRAS E DE ESCRITORES

“Quem lê sabe mais, muito mais… quem lê fica grande rapidinho, quem não lê vai ficando pra trás, encolhendo coitadinho”. Esta cantiga resume muito bem a importância da leitura, mostra a dicotomia que faz parte do mundo das letras.
Discutir a relevância da leitura, principalmente em tempos de terceiro milênio, acredito que não se faz necessário, é fato. Entretanto, ainda não é um hábito presente na vida de milhões de brasileiros, mesmo sendo importante. A boa notícia é que pesquisas recentes vem mostrando que este cenário está se alterando. Que bom!
E para isto continuar acontecendo é necessário, cada vez mais, que iniciativas fomentem o gosto pela leitura, provocando a inserção de uma maior quantidade de pessoas neste mundo de portas infinitas, onde o maior obstáculo é a imaginação.
Caratinga conta com um número expressivo de pessoas que são responsáveis por um variado “cardápio” de obras literárias. São escritores, amantes das artes transfiguradas em letras, das publicações. Com um esforço de memória citarei alguns: Izau Christofer, Camilo Lucas, Edra Amorim, Orides Gomes, Nelson Sena, Marilene Godinho, Ziraldo, Míriam Leitão, Hélio Amaral, Flávio Anselmo, Eugênio Maria Gomes, Monir Ali Saygli, Tracy Gomes, Joice Meire Rodrigues, Gilberto Rodrigues Vieira, Joaquim José da Silva Rodrigues, Raul Miranda, Ruy Castro, Maxs Portes, José Geraldo Batista, Águida Pereira, Juarez Gomes de Sá, Valter Zavatário, Thiago Silva, Flávio Mateus e este escriba.
Observem quantas pessoas têm obras publicadas que são ou se tornaram, de alguma forma, referência na terra das palmeiras. Portanto, que oportunidade elas apresentam para o município, para o desenvolvimento do capital humano da nossa cidade. E o que poderia ser feito? Vejamos algumas possibilidades.
Oficialmente, em 2009, foi lançado o “Dia do Escritor de Caratinga”, que a partir de então é comemorado no dia 1° de dezembro. Anualmente, um concurso literário poderia estimular a visibilidade desta data e com base nela incentivar novos escritores e por consequência leitores.
O território de Caratinga é composto por alguns distritos, e como diria o cantor mineiro Milton Nascimento, o “artista vai onde povo está”. Imaginemos a possibilidade da existência de um ônibus recheado de obras dos nossos escritores, devidamente “envelopado” (caracterizado) e transformado em uma biblioteca itinerante. Em datas pré-estabelecidas e divulgadas, o “ônibusteca”, periodicamente, poderia visitar todos os distritos levando consigo as obras dos escritores de Caratinga, fomentando assim, a cultura, a arte… através de oficinas, espaços para leitura, empréstimos e doações de livros.
Nossa polis, para muitos, é considerada uma cidade universitária. Milhares de estudantes frequentam diariamente nossa cidade. Há um leque de cursos que traduzem as diversas áreas do conhecimento. No mês do aniversário da cidade, poderia iniciar e virar tradição a existência de uma Feira do Livro, onde autores e editoras pudessem expor, lançar e divulgar seus trabalhos literários. Sonhemos com a possibilidade de ver, o estacionamento da UNEC II ou até mesmo a Praça da Estação (ou qualquer outro lugar), estruturada para a realização da Feira do Livro, que poderia contar ainda com um ambiente gastronômico e shows ao vivo (estilo barzinho), durante as noites frias de junho. Uniríamos a comida de boteco com o estímulo à leitura.
Tenho consciência, que falar é fácil, que uma ideia transita em uma série de limites, que para todos estes projetos é necessário recursos, financiamentos. Mas sei também que o nosso potencial literário é vastíssimo e não podemos continuar menosprezando mais esta forma de fomentar a nossa tímida economia, o desenvolvimento local e o mais importante, a valorização das pessoas. Se os livros dão asas… que eles sejam os nossos guias! E o que não falta são exemplos, mundo afora, de cidades, países… que se transformaram a partir do momento em que os livros se tornaram uma das suas prioridades.
Walber Gonçalves de Souza é professor. 
(Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga 30/06)