sábado, 31 de outubro de 2015

Matéria no Jornal

Matéria no Jornal Diário de Caratinga sobre a VII SIPAT da UNEC no qual ministrei uma palestra sobre a "Qualidade de vida no trabalho".


terça-feira, 27 de outubro de 2015

ARTIGO DE OPINIÃO

CRENÇAS E ATITUDES: A TEOLOGIA DA CONVENIÊNCIA
Artigo publicado hoje no Jornal Diario de Caratinga.

A religiosidade é uma das marcas de qualquer povo. Desde sempre o ser humano convive com crenças em “seres superiores”. Ao longo da história observamos a formação de diversos grupos, que partilham da mesma forma de crer. Alguns destes grupos são minoritários, pouco conhecidos, outros estão praticamente presentes ou são reconhecidos no mundo todo; destaco os muçulmanos, islâmicos e cristãos.
Desde a antiguidade verificamos esta relação humano e divino. Entre os povos gregos destaque-se a mitologia que é toda envolta com esta relação; os egípcios e suas crenças nos deuses animais; os povos do oriente médio e a formação da religião judaica, contada através do antigo testamento; e o próprio cristianismo que se desenvolveu dentro dos domínios do Império Romano. Algum tempo depois, Maomé dá origem ao islamismo e Lutero à primeira e radical divisão dos cristãos ao formar, à época, o protestantismo, as denominadas igrejas evangélicas. E todas elas de uma forma ou outra vêm reinventando-se até os dias atuais. O número de templos aumenta, os rituais diversificam-se, os líderes multiplicam-se…
Em Caratinga, conhecida como uma cidade religiosa, praticamente a totalidade da população diz ser cristã, que se divide entre católicos e evangélicos. Como é de conhecimento de todos, o livro sagrado dos cristãos é a Bíblia. Entretanto há uma pequena diferença entre a Bíblia católica e a Bíblia evangélica, alguns textos marcam esta diferença.
Fazendo uma comparação entre todas elas percebemos que existem algumas importantes semelhanças. E a principal delas sem sombra de dúvidas é que devemos amar Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Um mandamento maravilhoso com um desdobramento humano fantástico. No papel parece ser algo fácil de realizar, mas pelo que está acontecendo de fato, parece que não aprendemos bem esta lição.
Nietzsche, um dos mais famosos filósofos da humanidade chegou a afirmar que o ser humano matou Deus. Por conveniência humana acabou sendo mal interpretado e bastante criticado. Agora, cada coisa que é feita em nome de Deus por todas as religiões, que às vezes me pego pensando… será que Deus quer que façamos isto mesmo em nome Dele? Matamos em nome Dele; excluímos em nome Dele; discriminamos em nome Dele. São tantos exemplos que vivenciamos dia-a-dia que daria para escrever uma enciclopédia infinita de exemplos. Como sou um nada, quem sou eu para chegar a alguma resposta. Pode ser que eu esteja enganado.
Dito tudo isto, voltemos para aquilo que atualmente vem nos afligindo: a falta d’água.
Ao longo de muitos anos, preferimos continuar “comendo a maça”, isto é, estragar o paraíso. Não cuidamos das nossas matas, preferimos o desmatamento; não cuidamos das nossas nascentes e rios; acreditamos que o fogo é o melhor método para se “limpar” uma área; poluímos o ar; sujamos o ambiente, com todo tipo de lixo e entulho; enfim, preferimos continuar com o hábito de poluir, de detonar o paraíso.
E além de tudo, quando acontece alguma coisa, colocamos a culpa em Deus. Como se a responsabilidade pelas nossas atitudes fosse Dele. Pois assim fica tudo sempre mais cômodo. E logo em seguida em forma de desespero, como seres perdidos, começamos a rezar, orar… pedindo um milagre. Não duvido de milagres, mas até quando viveremos pedindo milagres?!
Tornou mais fácil para o ser humano transferir para Deus as responsabilidades que são nossas. Imagine um pai/mãe que doa tudo para os seus filhos e ainda em vida vê seus filhos perdendo tudo de uma forma irresponsável e desregrada. Acredito que nenhum pai/mãe quer vivenciar uma coisa dessas, pois com certeza gera angústia, sofrimento. Mas é justamente isto que estamos fazendo, a humanidade ganhou tudo, está estragando tudo e ainda quer por a culpa em quem tudo fez. Pregando para todos os cantos um Deus vingativo, rancoroso, um Pai que vive punindo seus filhos. O Deus que ama, que acolhe, que gera mudanças de atitude ficou esquecido. É inacreditável o que estamos fazendo!
Nossas crenças devem fortalecer as mudanças de atitudes. “A fé sem obras é morta!”. Sabemos o que devemos fazer para mudarmos este quadro desolador: cuidar do nosso habitat, da nossa grande casa chamada Terra. Reclamar, ficar de braços cruzadas e continuar transferindo a responsabilidade não vai resolver nada. Chegou a hora da atitude, da ação. Nossa crença não pode ser mesquinha ao ponto de nos afastar das nossas responsabilidades enquanto pessoa, enquanto filhos de Deus.

PALESTRA



Palestra ministrada na tarde do dia 26 de outubro na UNEC 
sobre "Qualidade de vida no trabalho", no VII SIPAT.

    

ARTIGO DE OPINIÃO

A COVARDIA DOS GESTORES PÚBLICOS
Artigo publicado 20/10) no Jornal Diario de Caratinga.

Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando observamos que todos os governos acabam herdando uma série de problemas dos governos que os antecederam; transformando-se numa aparente “bola de neve” que a cada dia aumenta mais agravando os problemas. Assim, de quatro em quatro anos ouvimos sempre as mesmas promessas acompanhadas das mesmas desculpas e justificativas.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando observamos que todos os governos prometem acabar com a corrupção, mas acabam fazendo a mesma coisa que condenaram. Aparece um escândalo aqui, outro ali, uma nota superfaturada aqui, petróleo vazando ali, trocas de favores aqui, compra de voto ali. Assim, de quatro em quatro anos vamos nos afundando em um mar de lamas da sujeira humana.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando observamos que as pessoas que deveriam cuidar dos bens públicos são os primeiros a saquear os cofres do cidadão.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando as prioridades não são consideradas prioridades. Na fala sim, mas na ação não. A escola não funciona, sua educação é analfabeta, a saúde está doente, os presídios não cumprem o seu papel de reabilitar, percebe-se que as instituições estão falidas, não conseguem cumprir o seu papel.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando a politicagem ocupa o lugar da política, pois o bem comum não é a regra do jogo. As picuinhas tornam-se maiores que as necessidades. O diálogo de ideias e posicionamentos perde o lugar para a discussão desenfreada e mal-educada, transformada em bate-boca.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando as pessoas erradas ocupam os lugares estratégicos. Como uma pessoa que não entende nada ou quase nada de uma determinada área pode ocupar a função de líder daquele segmento. A não ser para fazer parte desta ciranda politiqueira que está enraizada em toda a nação.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando falta criatividade, ousadia, coragem, espírito republicano, ser visionário, ficando preso sempre naquela velha fórmula: aqui as coisas funcionam assim, não mudam.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando se verifica uma gigantesca falta de compaixão dos nossos gestores. Pois pelo visto até hoje eles não perceberam que devido às suas faltas de ações estamos mergulhados em uma cidade, em um país, em que as mazelas humanas saltam aos olhos e estão aí, em todos os cantos para todo mundo ver.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando se constata o tamanho da covardia dos nossos gestores, da frieza com que conduzem os rumos da nossa vida política. Não consigo acreditar que seus atos monstruosos de corrupção são atos impensados; não consigo acreditar que eles não sabem que corrompendo estão gerando todos os nossos problemas. Que a saúde, educação, transporte, cultura, lazer… são o que são, portanto, de péssima qualidade porque o dinheiro que deveria ser aplicado em cada um destes setores é desviado para fins particulares.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando não se quer resolver os problemas. Nossos gestores dão a entender que não pensam, não buscam soluções, ficam presos às burocracias do sistema. Não procuram alternativas, transmitem uma imagem que aceitam passivamente as coisas como elas se mostram.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando o tempo passa e não são apresentados projetos, sugestões por aqueles que deveriam conduzir os rumos da vida pública. Quantos projetos foram apresentados na esfera municipal que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do município? Ou ajudaram, de alguma forma, elucidar soluções para os nossos intermináveis problemas? Caso este escritor esteja enganado, ficarei imensamente feliz!
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando o sonho por dias melhores parece ter desaparecido. Sendo guiados pela mentira, pelo descaso, pela falta de caráter, pelo jeitinho brasileiro, pelo toma lá da cá… resta-nos viver mais infinitos anos na mesma situação em que nos encontramos.
A covardia dos gestores públicos deve ser substituída pela ousadia, coragem e compaixão, caso contrário governar nunca será uma tarefa fácil.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

FALTA ÁGUA: TRAGÉDIA ANUNCIADA
Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga no dia 06/10

De segunda à sexta todas as manhãs era sempre a mesma coisa, por volta de 6:15h saía do Bairro Limoeiro, mais precisamente da Rua Dr. Breno Mourão e caminhava até as dependências da Escola Estadual José Augusto Ferreira, mais conhecida como Escola Estadual. De 1991 à 1993 cursei o segundo grau, hoje correspondente ao ensino médio.
                
Das minhas lembranças de estudante, ainda desta época, poucas são as coisas que afloram na minha memória sobre temas ligados ao meio ambiente. Estudávamos sobre muitas coisas, mas aulas com temas voltados para a preservação ambiental, com o cuidado que devíamos ter com o nosso planeta eram raras.
                 
Mas em 1992 aconteceu um fato que marcou e ao mesmo tempo mudou a percepção que as pessoas tinham sobre as questões ambientais. Na cidade do Rio de Janeiro aconteceu uma Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, que ficou conhecida como ECO-92. A partir deste evento as ações envolvendo a educação ambiental começavam a fazer parte do contexto escolar.
                
O futuro do planeta começava a ser discutido, os problemas ambientais também. Duas correntes lideravam os debates, uma defendia que os problemas ambientais eram consequências das ações predatórias do ser humano e a outra que tudo não passa de um ciclo natural da própria natureza, que o ser humano pouco ou nada interfere. De vaga memória lembro que naquele momento falava-se mais sobre a destruição da camada de ozônio, e por consequência do aquecimento global, o derretimento das geleiras e  as mudanças climáticas.
                
Mas um assunto não ficou esquecido, e também fez parte da pauta da ECO-92, a questão da água. Alguns especialistas previam os problemas que a humanidade enfrentaria decorrentes do desequilíbrio momentâneo do ciclo das águas. Resumindo, de acordo com eles em futuro não muito distante milhares de pessoas no mundo enfrentariam a escassez de água.
                
Soluções foram apontadas, entre elas, a diminuição de emissão de gases poluentes, o plantio de árvores, a criação de leis ambientais e uma série de outras pequenas ações que resultariam na preservação ambiental, no cuidado com a Terra.
                
O tempo foi passando, e os debates intensificaram-se. Em meio às discussões a realidade, uma catástrofe aqui outra ali. Gente morrendo de sede aqui, outras de fome acolá. Nascentes secando aqui, rios desaparecendo acolá. E de fato o que está sendo feito na tentativa de pelo menos amenizar o problema? Pelo visto muito pouco.
                
E agora chegou a nossa vez, nossa Caratinga está enfrentando a escassez de água. Começou na semana passada o rodízio de abastecimento. Talvez muitos pensassem que nunca chegaria a nossa vez. Como telespectadores, na maioria das vezes inertes, acompanhávamos tudo que estava acontecendo ao nosso redor, através dos noticiários e comentários com amigos, mas aquela velha mentalidade permanecia, comigo não vai acontecer, só com o outro. Nossa cidade não, somente as outras!
                
Independente de quem tinha razão nos debates sobre as causas dos problemas ambientais, perante a dúvida não fizemos nada. Não cuidamos das nossas nascentes, dos nossos rios, não reflorestamos, ficamos mais presos na bela teoria ambientalista do que nas ações significativas e concretas que realmente poderiam de alguma forma amenizar os problemas.
                
Nestes anos todos muitas vozes se levantaram e tentaram colocar em evidência a questão. Mas como são anônimos, despercebidos pela maioria da sociedade, não tiveram a atenção merecida. Aqueles que deveriam zelar, devido às suas atribuições administrativas e de gestão, pelo visto preferiram como sempre a omissão, ou o conforto da conveniência.
                
E como sempre, usando do ditado popular "quem paga o pato" é a população, os mais carentes e desprovidos de qualquer atenção.
               
A tragédia ano após ano estava sendo anunciada. Muitas coisas poderiam ter sido realizadas de fato. Chorar não adianta, a realidade está ai. Temos dois caminhos, ou continuamos de braços cruzados ou arregaçamos as mangas e comecemos a fazer o que é preciso. E isto nós já sabemos só nos falta executar, mas executar de verdade, sem as aparências enganosas que fingem resolver mas mantêm o problema. Chega de faz de contas!


Walber Gonçalves de Souza é professor.