quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Artigo no Jornal Diário de Caratinga

A cartografia na história da humanidade

Um dos fatores que impulsionam a evolução humana é a necessidade de apresentar respostas para intermináveis questionamentos. Entre estas inquietudes observa-se o querer decifrar o próprio habitat humano. Desvendar, entender e descrever a gaia tornou-se uma necessidade humana, tanto em âmbitos intelectuais quando em termos de sobrevivência.
Desde os primórdios pode-se perceber as várias formas que o ser humano tenta aperfeiçoar para demonstrar as características do planeta. Ao descrever o espaço por ele habitado o ser humano sente-se seguro e ao mesmo tempo apto a galgar novas possibilidades de avanços. Visto que nos dias atuais já ultrapassamos as fronteiras do próprio planeta permitindo-nos observá-lo do espaço.
De acordo com o cartógrafo José Flávio Morais Castro (2012) “desde os povos primitivos comprova-se a existência do uso da cartografia. Mapearam abrigos, as trilhas para a caça, e as rotas de navegação. Portanto mapear ou representar o espaço são fatos que acompanham a humanidade desde o seus registros mais primórdios”.
“A produção de mapas ocorre desde a pré-história, antes mesmo do surgimento da escrita. Sua confecção se dava em placas de argila suméria e papiros egípcios. Ao longo da história a cartografia foi evoluindo e desenvolvendo novas técnicas e, atualmente, é uma ferramenta de fundamental importância nas representações de áreas terrestres”, acrescenta Wagner de Cerqueira (2010).
A Cartografia é criada, portanto, envolvida com este objetivo, de ser um recurso no qual o ser humano poderá demonstrar os seus conhecimentos sobre as características do planeta, e a partir destas representações permitir que se possa ter análises e interpretações sobre diversos temas pertinentes à vida humana e ao próprio planeta. De acordo com a Associação Cartográfica Internacional, a cartografia “é definida como o conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas baseado nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e preparação de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como sua utilização”.
Assim, desde as pinturas rupestres, uma das primeiras formas de registro e comunicação, bem como de representação o espaço, que os seres humanos tentam, mesmo que de forma rudimentar, comparando com as tecnologias existentes no mundo contemporâneo, representar o ambiente.
São conhecidas várias técnicas desenvolvidas pelos povos antigos com este fim, representar o espaço. Os povos Sumérios usaram de placas de barro para as suas formas de representações da região da Mesopotâmia; Os esquimós e astecas usaram pedras, criaram maquetes, começaram as representações em relevo; Os chineses e egípcios mesclam novas funcionalidades e técnicas aos mapas, além de servirem como representações do espaço são usados como um recurso de demarcação de terras, cobranças de impostos, uso em guerra, começam a unir o conhecimento geométrico ao cartográfico.
Os povos gregos, através do uso da trigonometria, possibilitam o desenvolvimento de novas técnicas a serem usadas na cartografia. As técnicas inventadas por estes povos são a base da cartografia contemporânea. Todo o conhecimento permeado por estruturas e conceitos matemáticos desenvolvidos pelos povos gregos tornaram-se os pilares analógicos das representações geográficas do espaço.  Para José Flávio Morais Castro (2013) “a exatidão dos mapas históricos vem sendo avaliada nas pesquisas em Cartografia Histórica por meio do uso de técnicas de geoprocessamento.” E ainda segundo Castro, “entender os mapas históricos em diferentes contextos espaciais e culturais pressupõe o entendimento das diversas informações representadas graficamente nos documentos, bem como a variedade de técnicas utilizadas na produção”.
Ao observar a história da humanidade perceberemos que vários povos e pensadores contribuíram significativamente para o desenvolvimento da cartografia. Ptolomeu, no século II, com a teoria de representação esférica do globo e Mercator, no século XVI, com as teorias de como representar a terra em uma superfície plana estão presentes até os dias atuais em qualquer análise geográfica do espaço.
Mas a própria cartografia, por meio dos seus representantes, passou por uma mudança de percepção do espaço, além de representar os aspectos físicos do planeta (relevo, vegetação, hidrografia, clima) passou a contribuir com o processo de mapeamento das ações humanas no globo. Os cartógrafos contemporâneos ao analisarem o espaço começaram a mapear as suas percepções sobre as atividades humanas, sendo elas de ordem ambiental, cultural, social, econômica, religiosa… enfim, os mapas passaram a representar, além dos aspectos físicos do planeta, as diversas dimensões da vida humana em relação ao espaço.
Em paralelo a esta nova forma de trabalhar a cartografia observa-se o advento de novas técnicas, que resultam no surgimento do geoprocessamento. Uma técnica que através do processamento de dados, utilizando-se dos recursos da tecnologia da informação, procura demonstrar por meios digitais o conhecimento cartográfico que até então era realizado de forma analógica. O processo manual de coleta, análise e elaboração das representações cartográficas, brilhantemente desenvolvido pelo trabalho de Bertin (1967) como o passar do tempo vai sendo substituído gradativamente pelo processo computacional, representada pela cartografia digital. Lembrando que o processo de análise nunca deixará de pertencer ao pesquisador, por mais que o processo computacional permita outras possibilidades de se trabalhar com os dados pertinentes à pesquisa em voga.
As diversas interfaces, encontradas em vários programas computacionais, permitem que as informações espaciais possam ser tratadas de forma dinâmica e com maior precisão de detalhes. Colaborando para que as pesquisas geográficas encontrem resultados cada vez mais significativos. O pesquisador da UNICAMP, Alysson Bolognesi Prado diz que, “o desenvolvimento da tecnologia de informação nas últimas décadas tem oferecido oportunidades de melhorar dramaticamente o processo de tomada de decisões e resolução de problemas no domínio geoespacial.”
Representar o espaço é uma prática que acompanha a humanidade desde os primórdios e que vem desenvolvendo-se em consonância com a própria evolução humana.
A contemporaneidade é marcada pelo uso do Geoprocessamento e a Cartografia que está muito presente no cotidiano de todos nós, seja para alguma atividade profissional ou pessoal. Notamos o uso do GPS, a internet com os inúmeros aplicativos de mapeamento e rotas, softwares, smartphones, tablets, notebooks, imagens de satélites, bancos de dados, entre outras, contribuíram para o acesso, difusão e aplicação da milenar arte de mapear.
* Walber Gonçalves de Souza é professor do Ensino Fundamental, Médio e Universitário na Fundação Educacional de Caratinga/MG. Graduado em História, Especialista em Ciências do Ambiente, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade e Doutorando em Geografia – Tratamento da Informação Espacial pelo Dinter PUC-MG/UNEC.

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