quinta-feira, 10 de março de 2016

Defesa de um sistema falido
Artigo publicado no Diário de Caratinga no dia 08 de março.

Para se formar uma nação é preciso um território delimitado, onde são conhecidas as suas fronteiras, um povo que pode ser identificado culturalmente e um governo organizado. Estes princípios básicos praticamente sustentam a formação de uma nação.
Sobre o território acredito que não há dúvidas a respeito das nossas fronteiras. São conhecidas, asseguradas e aceitas pelos órgãos nacionais e internacionais.
Em relação ao povo, sabemos que, historicamente, nunca foi visto como parte integrante do país, da nação. A não ser como mão de obra barata e durante muito tempo de forma oficial escrava. Assim, infelizmente a nossa cultura popular, do povão, que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos acaba não contribuindo para o desenvolvimento da própria pessoa. Haja vista o que faz sucesso nas terras tupiniquins. Mas é claro, devemos sempre buscar as raízes de tudo isto, para podermos entender o processo e por consequência quem sabe procurar meios para reverter tal cenário. Lembrando que um bom início seria a oferta de condições reais e eficazes de uma educação verdadeiramente de qualidade.
Mas neste artigo vou reter-me à reflexão sobre a importância de um governo organizado. Que não é o nosso caso, pois pelo visto em nosso país demonstra estar falido, se é que um dia, nestes 516 anos, ele realmente desempenhou a sua função em prol da nação.
É estranho como as coisas acontecem por aqui. Uma eterna briga pelo poder, utilizando-se sempre da mesma bandeira, que teria o povo como o grande beneficiado. O resultado de fato nada acontece. O Brasil continua o mesmo, o país do futuro, perpetuando a esperança que agora vai, que daqui pra frente vai ser diferente. Mas de concreto nada!
Há anos ouço falar que estamos em crise, que as coisas não funcionam no Brasil, que aqui é assim mesmo, o bendito “sistema” não deixa as coisas fluírem, não adianta ninguém tentar mudar, pois não conseguirá fazer nada, e assim vai, desculpas e mais desculpas que mantêm as coisas sempre do mesmo jeito, na mesma ordem em que se encontram. E o pior, pensar assim está culturalmente impregnado na mente de cada um de nós, por mais que tentamos pensar diferente tem hora que nem a gente mesmo acredita que pode ser diferente.
Ensinaram-nos que deveríamos tomar partido, lotar as ruas com manifestos, defender a todo custo aqueles que nos governam ou que deveriam nos governar. Mas não nos ensinaram a pensar sobre eles. Ensinaram-nos que devemos seguir, acreditar, defender, brigar e pronto. Assim, qualquer coisa que falamos sempre será visto como um ataque ou defesa de alguém. Mas toda este lengalenga promovida pelos brasileiros, não muda em nada a forma secular de agir dos nossos governantes que estão sempre se revezando no poder. Por mais que se tenha o discurso barato dos nós contra eles, elites contra os pobres e assim vai.
O resultado deste ensinamento é que sempre estamos torcendo e/ou defendendo alguma sigla ou pessoa, independente da forma como que ela se manifesta ou se mostra. A polarização pela qual aprendemos acreditar e defender como certo na verdade está matando a nossa esperança.
Quando as nossas escolhas partem do fanatismo cego estamos apenas contribuindo para a manutenção cruel deste sistema falido no qual dia após dia estamos mergulhando. Sem querer estamos inconscientemente defendendo lacaios, transfigurados de homens públicos.
Veja como está o nosso país, um campo de guerra partidária, onde seus líderes através de falácias usam o povo como escudo. Mostram-se diferentes, mas de fato são iguais. Todos são recheados de escândalos, mentiras, artimanhas, falcatruas… cada um da sua forma contribuindo com a deformação do país.
E por que nossa dita justiça não se torna mais ágil? Por que as investigações esbarram na mediocridade dos interesses de quem pode e sabe mais? A morosidade da “justiça” demonstra mais uma vez a falência do nosso sistema governamental em todas as suas esferas e repartições.
Sem querer estamos nos acostumando a defender bandidos. Achando que um dos lados é melhor do que o outro. Parece que estamos cegos! No campo de batalha que é a própria luta pela sobrevivência o bom senso e a justiça a cada dia estão perdendo seu espaço para a burocracia e a ignorância. Assim gastamos nossas vidas defendendo quem nos tira a dignidade de viver.
Não queremos enxergar e acreditar que pode ter uma terceira, quarta, quinta… via que pelo menos tentará outras possibilidades de gestão da nossa nação. Enquanto isto, vamos continuar brigando, xingando uns aos outros e mantendo a ciranda podre do poder que tomou conta do gigante adormecido chamado Brasil.
Walber Gonçalves de Souza é professor.

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